29/1/2018 08:30

Com dissidentes de Andrés, Ezabella se apresenta como terceira via

Eleição para presidente do Corinthians está marcada para sábado, no Parque São Jorge

Com dissidentes de Andrés, Ezabella se apresenta como terceira via
Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press

O advogado Felipe Ezabella é o mais jovem entre os cinco candidatos à presidência do Corinthians. Aos 39 anos, o antigo diretor de Esportes Terrestres do primeiro mandato de Andrés Sanchez lidera um grupo de dissidentes da chapa Renovação e Transparência, a mesma que elegeu o atual mandatário do clube, Roberto de Andrade. Pretende transformar a administração com base em um estudo de governança, apresentando-se aos sócios como uma terceira via no pleito, além da situação e da oposição.



Para esmiuçar os projetos dos cinco candidatos à presidência do Corinthians, a Gazeta Esportiva colheu longos depoimentos de Andrés Sanchez, Antonio Roque Citadini, Felipe Ezabella, Paulo Garcia e Romeu Tuma Júnior. Cada um deles teve aproximadamente uma hora para defender as suas ideias e palpitar sobre os mais variados assuntos, da política corintiana à gestão da dívida do Estádio de Itaquera.

Na semana que terminará com a eleição no Parque São Jorge, marcada para o sábado de 3 de fevereiro, as explanações dos postulantes ao cargo de Roberto de Andrade são publicadas diariamente pelo portal, uma a uma, seguindo a ordem da realização das entrevistas. Abaixo, leia o que falou Felipe Ezabella.

Por que ser candidato
Porque o Corinthians é a minha vida. Não fui nem eu que decidi pela minha candidatura. Foi o nosso grupo. A partir da abertura política proporcionada pelo fim dos chapões, o nosso grupo começou a se organizar, a crescer, a ter adesões. Vimos que havia uma chance de ter uma candidatura própria, com ideias novas. A partir daí, fizemos alguns seminários e workshops, trazendo gente de fora para falar sobre Corinthians e gestão esportiva. Ao final desse trabalho preliminar, percebemos que o nosso grupo era muito mais forte do que uma simples chapinha. Havia a possibilidade de ter um candidato. Fizemos uma pesquisa interna para ver quem seria o líder desse movimento novo, e o meu nome foi escolhido. Aceitei como algo natural, até porque a minha vida inteira foi o Corinthians.

Já tenho um histórico no clube, mas nunca tive em mente ser presidente. Sempre quis ser conselheiro, desde a infância. Frequentava o Parque São Jorge com o meu avô, que era amigo dos conselheiros, e pensava: “Pô, um dia, também quero ser conselheiro”. Fui eleito conselheiro pela primeira vez em 2007. Foi algo realmente bem bacana, marcante, emocionante. Entrei em um período difícil para o clube, e, naquela época, realmente havia uma bandeira de renovação e transparência (nome do grupo político de Andrés Sanchez). A gente conseguiu mudar o estatuto, fazer a eleição direta, enfim…

Depois, já no final do mandato do Andrés, deu uma desandada. Havia um engajamento muito forte, com bandeiras bem claras, e isso deixou de existir. A partir da questão do estádio principalmente, deu uma atrapalhada grande. Até hoje, não conseguimos ter informações a respeito. Nem a comissão que foi criada no Conselho obteve acesso a todos os documentos. A transparência ficou bem para trás, né? Foi algo que se perdeu aos poucos. Não houve um dia específico, um marco.

Hoje, acredito em um presidente mais aberto, menos centralizador, que delegue mais, crie nichos, departamentos, comitês… Isso foi um dos problemas que identificamos no nosso estudo de governança. Se queima a luz da bocha e as pessoas não conseguem jogar, vão reclamar com o presidente. Tudo é muito focado nessa figura. Agora, estamos divulgando as nossas propostas, e quem está aderindo confia, sim, que vamos executá-las.

O que mudar em relação à atual gestão
Existem alguns pontos principais, que temos apontado na campanha. A questão da governança, essa palavrinha que está na moda – e, na verdade, representa uma gestão mais moderna e transparente dos departamentos do clube, com compliance – é um deles. É algo que faz bastante falta no Corinthians. Aqueles gráficos de receita, sempre publicados pelas empresas de consultoria, estão muito focados em vendas de jogadores e renda de televisão. Temos poucas receitas de vendas de publicidade na camisa – eventualmente, é a nossa terceira maior receita, mas contribuindo com alguns pingadinhos –, de licenciamento e de outras propriedades comerciais. Mudar isso requer um trabalho árduo de dia a dia, de ficar em cima, com branding, de fazer o departamento comercial trabalhar junto com o de marketing. Assim, é possível gerar caixa para o clube.

Hoje, não podemos nem reclamar de não contar mais com o dinheiro das bilheterias dos jogos, que fica no fundo para pagar o estádio. É lógico que seria uma fonte de renda importantíssima, até pelos números que temos na nossa arena, mas, em tese, já deveríamos ter nos organizado para lidar com isso. Faltou um pouco de governança aí. Precisávamos ter criado outras formas de levantar valores.

Também pensamos no aspecto social. O clube já trabalha nessa área – que até teve o Rogério Mollica, do nosso grupo, como primeiro diretor – com ações como o Time do Povo, o Novembro Azul, o Outubro Rosa e outras. Só que queremos fazer isso de forma contínua dentro do Parque São Jorge, eventualmente criando uma fundação, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), algo institucionalizado. Aí, conseguiríamos ter acesso a todas aquelas verbas governamentais. Seria perfeito.

De resto, falando de relacionamento fora do Corinthians, precisamos estar unidos para melhorar o futebol de uma maneira geral. Por exemplo, acho muito ruim essa Libertadores até o final do ano. Mata o nosso principal campeonato, o Brasileiro. E os amistosos da Seleção Brasileira? Em 2015, quando fomos campeões contra o Vasco, dois jogadores estavam convocados pouco antes. Como pode? Era o jogo do título, e o campeonato não para? Recentemente, na partida que definiu o campeonato do ano passado, o Cássio não jogou contra o Fluminense. O jogador está louco para ir à Seleção e tem mais é que ir, mas vamos perdê-lo na reta final do Campeonato Brasileiro? Os clubes têm que se unir contra isso.

Estádio de Itaquera: bom ou mau negócio?
Foi bom. O estádio é maravilhoso, um local de conquistas de títulos em três anos e pouco de vida. Já são dois Brasileiros (o de 2015, na verdade, foi conquistado em São Januário), um Paulista, enfim… E o estádio está sempre cheio. Se você pegar a média de público de Itaquera para analisar, verá que ganha em todos os anos do Pacaembu em um passado recente.

A questão é que não conseguimos – essa administração do Andrés – resolver dois pontos: o financiamento da dívida, a sua estrutura, e o modelo de gestão do estádio, que foi feito para funcionar 365 dias por ano, e não só nos 35 dias com jogos.

Também é fácil criticar a engenharia financeira para viabilizar a arena agora, com a obra pronta. Se não fosse feito desse jeito, a gente não sabe se conseguiria ou não ter o estádio. Aproveitou-se os financiamentos.

O que falta é um melhor gerenciamento do espaço. Devemos todos esses valores também porque o estádio já tem três anos e meio e ainda não vendemos os seus camarotes nem outras propriedades. O estacionamento não está pronto para ser operado todo os dias. Há até pouco tempo, não tínhamos nem o tour da arena. É isso que dificulta. Se as coisas tivessem começado antes, a dívida certamente não seria essa.

Como resolver o problema da dívida de Itaquera
Não tem como equacionar isso sem passar por uma negociação dura, eventualmente por uma disputa litigiosa. Também não adianta entrar em um litígio que demore 10 anos – se bem que, no tribunal arbitral, seria menos, de três a cinco anos – sem buscar um acordo. É preciso resolver o problema.

Está nítido, mesmo sem fazer uma perícia – e alguns levantamentos já foram feitos –, que há locais da obra não terminados. Existem valores que o clube deve para a construtora, alguns em que a própria construtora emitiu as debêntures. E há ainda uma relação societária, vamos dizer assim, muito grande – duas empresas, um sócio de um fundo… Então, é um emaranhado, que a gente já tem conhecimento. A ideia é solucionar isso com uma negociação dura.

Temos os CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento, emitidos pela Prefeitura de São Paulo), que são a principal moeda de troca para negociar esse acordo com a construtora hoje. A intenção é alcançar um entendimento que tire a Odebrecht de lá. Diferentemente de qualquer outro pensamento, não queremos mais trabalhar com a Odebrecht. Entendemos tudo o que ela passou (refere-se à Operação Lava Jato), um problema que terá que resolver – e nós também temos os nossos –, mas não queremos a construtora como parceira.

Em relação à Caixa, temos a obrigação moral de pagá-la, mas é lógico que não conseguiremos pagar do jeito que está parcelado. Faríamos como um financiamento de um carro: você renegocia, paga um pouco mais de juros e alonga a dívida.

Direitos de nome do estádio
Nesse ponto, o fato de a Odebrecht estar lá nos atrapalha. Para ela, também é ruim. Em todas as vezes em que citam a dívida do estádio do Corinthians, aparece o nome da Odebrecht. Por outro lado, em todas as vezes em que aparece algum delator falando de qualquer problema da Odebrecht… Ninguém sabe quando isso vai acabar! É muito ruim para o clube ter o seu nome associado a essa questão. A partir do momento em que você está associado a uma empresa cheia de dificuldades, é difícil que outra queria ser sua parceira. Até porque, no marketing, você não vende só o banner, o espaço para publicidade, mas também o relacionamento, a associação das marcas. É por isso que queremos resolver esse problema primeiro. Sabemos que não é fácil. Se fosse, já teriam resolvido. Mas vamos resolver o quanto antes.

Mesmo assim, é possível, sim, negociar os naming rights. Tenho dito que foi vendida para o corintiano uma conta, não vamos dizer errada, mas sem embasamento comercial. Não existe em lugar nenhum do mundo pagar R$ 200 milhões por 20 anos de naming rights. Tirem os Estados Unidos da conta e peguem a América Latina, a Europa e a Ásia para ver que não tem. Ah, mas o Corinthians, com a abertura da Copa do Mundo, não poderia conseguir? Ah, poderia. A gente estava vivendo um outro Brasil, e poderia chegar uma empresa maluca para assinar esse contrato e fazer todo o mundo sair como salvador da pátria. Mas, fazendo uma análise de mercado, você percebe que nem mesmo na Europa chegam àquele valor. A última negociação de naming rights mais conhecida foi a do estádio da Juventus, a maior equipe da Itália, às vésperas da final da Champions League. E foram € 3 milhões (R$ 11,8 milhões) por ano, por cinco anos! Estou dizendo que ninguém vai conseguir vender os nossos naming rights? Não é isso. Se tiver alguém…

E não sei qual seria o valor real no nosso caso. Preciso de um estudo mercadológico para chegar a uma empresa e falar que os naming rights da arena valem tanto, dando tanto de retorno. Até porque é uma propriedade nova no mercado. O que a gente tem conversado com alguns especialistas e com empresas que trabalham com isso na Europa é o seguinte: de repente, é melhor fazer um contrato com um prazo menor, como experiência, já deixando amarrada a renovação caso a empresa goste. Se ela não quiser mais depois, como fazemos? Perdemos essa propriedade? Realmente, ficará mais difícil fazer um segundo contrato com uma segunda empresa. Mas, hoje, a gente já tem também o tal do “Itaquerão” pegando. É melhor fazer esse contrato curto e ter uma receita para ajudar a pagar as contas do que ficar sem nada.

Parceria com a Omni, gestora do programa Fiel Torcedor
É um contrato antigo do clube, em que foram feitos diversos aditivos. Hoje, a conclusão que temos, via Conselho Deliberativo, é que o viés comercial da parceria não é tão favorável ao clube. Temos que sentar e resolver isso rapidamente.

Mas, com a Omni, a negociação é mais simples do que com a Odebrecht. Com a Odebrecht, podemos ficar 20 anos como cotistas do fundo criado para pagar o estádio. Já a Omni tem um contrato com prazo determinado, até 2019. Então, é só chegar e falar: “Vocês querem continuar trabalhando aqui? O sistema de ingressos funciona – até temos melhorias a fazer, mas a operação está funcionando. Só que devemos melhorar as questões comerciais”. Eles não querem? Está bom. Aí, vamos ficar no pé, respeitando o contrato até o vencimento – até porque, para quebrá-lo, existem multa, indenização, lucros cessantes… A não ser que venha outra empresa e banque tudo isso, mas é difícil, pois os valores são altos.

Ainda assim, uma série de contratos já foram revistos durante a vigência. Por que não esse também? Se eles não quiserem, é o que falei: vamos ficar em cima, colocando alguém para auditar e notificar no caso de qualquer irregularidade.

Busca por um patrocinador máster
Isso é receita. Como o clube tem o problema do endividamento… Até temos dinheiro a receber, mas não fluxo de caixa. Isso mata. As empresas quebram por falta de fluxo de caixa. O Corinthians está sangrando por problema de fluxo de caixa, por não ter dinheiro para fazer um investimento pontual, para pagar uma dívida que está vencendo, uma ação trabalhista imprevista. Isso te sufoca e te faz sangrar. Você tem que correr para pegar adiantamentos, empréstimos bancários com juros altos. Então, vamos, sim, atrás de todas as formas de receita, novas ou tradicionais, para gerar caixa rapidamente.

E um patrocínio máster de R$ 30 milhões anuais está dentro da realidade do mercado. É um valor que o clube já obteve, por uma propriedade conhecida, tradicional, da qual já se sabe a visibilidade. É um valor real. Já vendemos até por mais de R$ 30 milhões.

Mas, voltando à questão dos naming rights, vocês veem que o patrocínio máster custa R$ 30 milhões por ano. Os naming rights, R$ 20 milhões. Em tese, o nome do estádio é uma propriedade que te dá um mundo de oportunidades maior, podendo fazer eventos e promoções, e o Corinthians não consegue vender. Por quê? Porque é algo novo, fora do valor de mercado, precipitado, diferente. Para anunciar na camisa, a empresa fecha por um ano. Para ter o nome do estádio, são 20 anos. Quem vai amarrar o seu burro por 20 anos? Tudo isso tem que ser mais bem trabalhado.

Publicidade para pequenas empresas
Temos uma nova tendência. Por que, no passado, a Samsung patrocinou todo o mundo? Porque ninguém a conhecia ainda. Hoje em dia, a Samsung não patrocina mais ninguém; só faz marketing de nicho. Foi a mesma coisa com a Pepsi Twist, o DDD. Agora, as camisas dos clubes são vistas como uma propriedade cara, que nem sempre atingem nichos específicos. Às vezes, uma empresa contrata um youtuber por uma ninharia e tem um alcance específico, atingindo exatamente o que está buscando. No futebol, estão aparecendo empresas que precisam de uma exposição maior, que estão chegando ao Brasil agora. Sendo idôneas, mesmo não renomadas, não vejo problema.

No Corinthians, o ponto é que a gente já teve uns três, quatro episódios de parcerias que geraram insatisfação. Foram empresas que vieram, pagaram um, dois dias, e saíram porque o negócio do cara não deu certo. Houve aquele Apito Promocional, aquela agência que comprou o espaço e não conseguiu revender… Aí, é ruim.

Como, sem dinheiro, investir no departamento de futebol?
É possível, sim. Com criatividade, você consegue. Veja o Pablo, zagueiro. Aconteceu aquela polêmica gigantesca por ele não ter ficado no Corinthians, mas quem conhecia o Pablo até o ano passado? Ele veio de graça. Foi o sistema de gerenciamento do clube que o identificou e conseguiu trazer um jogador que foi titular, um dos nossos destaques no Campeonato Brasileiro. Então, com trabalho e inteligência, é possível fazer boas contratações. O elenco também tem alguns jogadores que podem ser envolvidos em negociações.

Só é difícil falar que vou trazer tal cara e pagar R$ 5 milhões, R$ 10 milhões. Não, isso não. Seria leviano da minha parte dizer que, em assumindo a presidência, trarei esse ou aquele jogador. Até porque vamos assumir em fevereiro, com o time já montado, jogando. Mas o Campeonato Brasileiro é longo, haverá o recesso para a realização da Copa do Mundo, e a Libertadores só terminará no final do ano. Assim, ao longo dos meses, analisaremos o que foi montado e poderemos acrescentar um ou outro atleta que consigamos encontrar na janela de transferências.

Seja como for, a equipe tem que ser forte. Se é uma equipe baratinha, mas que não rende, o seu prejuízo aumenta. Não tem jeito. Você precisa investir para ter retorno. Sem isso, o estádio não vende nada e por aí vai.

Mesmo assim, não devemos trazer jogadores renomados. Em um mandato de três anos, se houver algo assim, será uma coisinha bem pontual. Não será como naquele período em que vieram Pato, Renato Augusto e Guerrero praticamente em uma leva só. Uma ou outra contratação pontual sempre é possível, mas acredito que o Corinthians deva investir na base e tentar achar no mercado um novo Paulinho, um novo Ralf, algo nessa linha.

Planos para as categorias de base
As categorias de base enfrentaram um problema de organização. Tivemos três diretores em três anos. Imagine um aluno mudando de professor três vezes, fazendo um paralelo bem grosseiro. Existe aí uma dificuldade na adaptação.

Quando o Fernando Alba, que é nosso candidato a vice-presidente, teve uma sequência de quatro, cinco anos na diretoria das categorias de base, geramos os frutos que estão hoje na equipe principal. Além do Osmar Loss e do Alessandro (antes, eram técnico e supervisor da base, respectivamente; hoje, são auxiliar e gerente de futebol do time profissional), temos 14 ou 15 atletas que passaram pela base no grupo de cima.

O problema que existe hoje não será resolvido em uma gestão. É preciso implantar um trabalho sequencial, além de terminar o CT da base, um gargalo que, nesses dez anos, não conseguimos solucionar.

O desafio de assumir um clube que tem sido vencedor em campo
Na questão do futebol, a administração foi muito boa. Não tem como não dizer isso. A ideia é continuar e melhorar. Existe um ponto de virada importante aí, um diferencial, que é a construção do centro de treinamento. A partir do momento em que o CT ficou pronto e isolado do clube, onde os jogadores estavam sujeitos a confusões e a fofocaiadas, houve uma blindagem, uma melhoria. Isso sem falar na questão da excelência, com os campos, as áreas de fisiologia, médica.

Sempre há espaço para melhorar, mas esse tem sido o grande diferencial do clube. A ideia é manter esse nível competitivo, sim.

Futuro do gerente de futebol e da comissão técnica
Sim, sim, vamos continuar com o Alessandro. Também concordo com extensão do contrato do Fábio Carille. Até pelo perfil da nossa chapa, que tem muita gente nova, que se preocupa com a parte acadêmica, mesmo tendo experiência prática, o Carille é a pessoa certa para o Corinthians. É um cara com oito anos de clube, que trabalhou com todos os nossos treinadores e agarrou a sua chance. Ele estudou, tirou licença na CBF. Isso sem falar no Osmar Loss, que esteve com o Fernando Alba na base e está sendo trabalhado para daqui a alguns anos, a gente não sabe quando, assumir o cargo de técnico. Há ainda o Fabinho (ex-volante) como auxiliar, que chegou agora, além dos outros assistentes. É com esse tipo de gente que gostamos de trabalhar.

Sigo a linha de conduta que deu certo no Corinthians nos últimos anos. O técnico tem que entender a cultura de jogo do clube. Qual é a cultura que tem prevalecido aqui? É a de um jogo pensado, solidário, aguerrido, como foi com o Tite e o Mano Menezes, gostem ou não, e está sendo com o Fábio Carille. Se você analisar os três ou quatro treinadores que passaram rapidamente pelo clube nesse período recente, verá que eles possuíam outra filosofia e não tiveram tempo de implantá-la. O Cristóvão Borges veio com outra cultura de jogo. Talvez com mais tempo, com uma pré-temporada… É também por isso que o Carille deu certo. Ele acompanha a filosofia do Corinthians há anos. Ah, mas o Corinthians nunca jogou para a frente? É claro que já. Os times de 1998 e 1999 eram muito habilidosos. O de 2005, pô, era uma seleção. Mas precisamos ter peças e tempo para isso. Hoje, existe uma linha, que, sendo seguida, já sabemos aonde podemos chegar.

Cobranças por resultados e relação com a torcida
A cobrança é natural. Eu também cobro, sou torcedor. Cobrei a vida inteira e sei que serei cobrado. Dentro do que for legítimo e respeitoso, acho natural. O que chateou alguns ex-presidentes foram os casos de má-fé. Sei que vou lidar com isso inevitavelmente, mas sou jovem e tenho um pouco mais de paciência para enfrentar a pressão. Além disso, tenho uma equipe grande comigo, que já passou pela diretoria: o Heleno Maluf, o Raul Corrêa, o Sérgio Alvarenga, o Luís Alberto Bussab, o Fernando Alba… Eles são todos conhecidos, ex-diretores. É uma equipe que sabe onde está pisando. Quando virei conselheiro, em outubro de 2007, era mais novo, diferente. Hoje, tenho um pouco mais de casco.

Também sei cobrar enquanto administrador. É preciso ir ao CT sempre e cobrar os jogadores, como fazemos com qualquer funcionário. Devemos exigir respeito aos companheiros e ao empregador. A cobrança técnica, não, quem faz é a parte técnica. A minha será mais no sentido de finalizarem o trabalho direito, nos horários determinados. E, por outro lado, também tenho as minhas obrigações, de pagá-los. É preciso ter uma relação transparente com eles nesse sentido.

No caso das torcidas, tudo o que for transparente, sem privilégios, não vejo problema em fazer. Seria pior se tivéssemos recebido torcedores organizados no CT sem ninguém saber e isso acabar vazando. Existe uma cobrança no Corinthians com esse assunto porque já foi algo abusivo no passado. Era coisa de colocar dedo na cara de jogador, de querer ensinar como jogar.

Agora, em todos os sábados, dezenas de torcedores e conselheiros vão ao CT. Às vezes, até cobram: “Pô, você errou aquele chute!”. Alguns jogadores se irritam, porque não é só tirar uma fotinho. De certa forma, há cobrança. Mas, com as coisas sendo transparentes e com respeito, não há problema algum em ter a presença da torcida.

Processo de impeachment de Roberto de Andrade
Entendi bem o pessoal que foi a favor do impeachment, mas muitos estavam apoiando mais por estarem insatisfeitos com a administração de uma maneira geral, principalmente com as questões relacionadas ao estádio. Dos pontos de vista técnico e até político, o impeachment não seria bom para o clube. Não existia ali um crime, um fato gravíssimo. Tanto é assim que os documentos que levaram ao protocolo do impeachment foram conduzidos a uma delegacia, onde o próprio delegado e o promotor que acompanhou o inquérito deram parecer contrário à existência de um crime. Havia, sim, uma irregularidade. A assinatura do contrato em questão realmente estava com uma data anterior, mas os e-mails da fase pré-contratual se encontravam todos de acordo.

No final das contas, o Roberto tomou uma advertência, alguma coisa assim, e acredito que tenha ficado de bom tamanho. Isso foi mais um processo político, que desgastou o clube, do que um fato consolidado.

Conselho Deliberativo dividido em chapinhas, e não mais com um chapão
A mudança é ótima. Um dos motivos que me fizeram participar do grupo Renovação e Transparência foi a abertura política no Corinthians. Naquela época, tínhamos a bandeira não apenas da eleição direta, como também a da auditoria permanente, acabando com o chapão. Pouca gente se recorda, mas chegamos a acabar com o chapão em 2008. O novo modelo era uma eleição proporcional – você votaria em até cinco candidatos, havendo cociente eleitoral. Mas, aí, de última hora, disseram que tinha sido uma mudança muito grande e apresentaram uma emenda, aprovada sem tanta discussão. Houve uma confusão para acertar a redação disso aí. Acharam tão confuso que decidiram voltar com o chapão. Depois, tivemos outras duas tentativas frustradas de dar fim ao chapão, em que perdemos a votação.

Agora, em julho, aproveitando essa onda de insatisfação com a administração atual e os escândalos da Odebrecht, que deixaram o estádio nos holofotes das questões políticas, conseguimos instituir as chapinhas. O fim do chapão já era uma promessa de campanha de todos os candidatos, mesmo com algumas pessoas sendo contra, então só faltava discutir o modelo ideal. Os caciques, os principais líderes do clube, gostariam de um formato com uma chapa com obrigatoriamente 200 pessoas. Depois disso, seria feita a eleição proporcional. Assim, você montaria uma chapa de situação e outra de oposição, impedindo a existência de uma terceira via. O pessoal do nosso grupo não queria isso de maneira alguma. Alguns gostariam que fossem candidaturas individuais. Eu preferia um sistema misto, com chapas de 50 a 200 nomes, usando o cociente eleitoral. Mas, na votação em dois turnos, todo o mundo apostou nessa fórmula com as chapinhas.

O pessoal fala que as chapinhas dividiram muito o clube. É claro que, se você pega duas chapas de 200 pessoas e as divide em blocos de 25, haverá uma cisão maior até dos grandes grupos. Mas será uma boa experiência, deixando o Corinthians mais plural. Eu, por exemplo, tenho três amigos muito próximos, cada um de um departamento do clube e cada um de uma chapinha diferente. Só que eles são amigos e pensam da mesma forma.

O certo é que o novo modelo mudará bastante a forma de o presidente administrar o Corinthians. Ele vai ter que explicar as coisas, conversar e trabalhar a política interna, e não se fechar na sala dele.

Chances de vencer a eleição
Temos grandes chances. Por conta dessa situação política do Brasil, as pessoas estão cansadas dos mesmos candidatos de sempre, daqueles que têm vinculação política. Isso vale para síndico do prédio, vereador, prefeito, deputado, senador, governador, presidente… Todo o mundo quer ver um rosto diferente, gente que se dedique, que tenha tempo para arregaçar as mangas e trabalhar, com vontade de fazer.

Sinto essa vontade no Corinthians. A partir do momento em que anunciamos a nossa candidatura e o nosso projeto, passamos a receber essa energia. A quantidade de gente nos apoiando aumenta a cada dia. Não conseguimos fazer uma projeção de votos, até porque é uma eleição muito difícil de analisar, mas sabemos que há um índice de rejeição dos nossos adversários. O poder te desgasta, independentemente de você ter sido um bom ou um mau político. O Roque Citadini mesmo já foi candidato três vezes. Mesmo apresentando propostas, você está apanhando na campanha. Isso também te desgasta.

Agora, tento me posicionar como um outsider. No começo, falávamos em terceira via, até porque temos gente tanto da situação quanto da oposição conosco. É uma estrada que pretendemos trilhar, que estamos vendendo. Sou novo, mas já participei da administração do Corinthians, assim como outros que estão comigo, e também há gente que nunca participou, gente de mercado, que trabalha em banco, em grandes empresas. Estão todos apostando na ideia de ter algo novo no clube. Estamos bem confiantes. Não sei aonde chegaremos, mas é possível ganhar, sim. Ainda mais com tantos candidatos, em uma eleição em que os votos são pulverizados.

Relacionamento com os demais candidatos
É muito bom. A gente conversa. O clube é um local de convivência. Nos finais de semana, estou lá fazendo campanha, assim como os outros candidatos. Nós nos cumprimentamos. Eventualmente, também nos encontramos em reuniões do Conselho, tomamos café, almoçamos e jantamos, sem problema algum. É preciso ter um relacionamento de alto nível porque, no final das contas, no dia 4, estaremos todos lá no clube. Não sou mais conselheiro, mas eles são e estarão lá.

Em relação à minha saída da Renovação e Transparência, da minha parte, não ficou qualquer ressentimento. Nesses últimos anos, o Andrés está mais em Brasília. No final de semana e nos jogos, ele aparece, é lógico, mas não estamos tendo mais tanto contato. E eu me afastei do grupo dele faz tempo. Fui diretor do Andrés até 1º de dezembro de 2009, quando entreguei o cargo. Continuei na Renovação, sendo eleito conselheiro e entrando no Cori (Conselho de Orientação) como secretário-geral. Mas, na última eleição, saí definitivamente. Não sou mais conselheiro, né? A minha forma de contribuir foi estar na comissão eleitoral e ficar à disposição para ajudar quando solicitado.

Investimentos em outras modalidades esportivas
O Corinthians é um Sport Club, então deve ter várias modalidades. Não dá para fechar os olhos para isso. O futsal continuará com certeza. É uma porta de entrada e um chamariz para os jogadores de futebol de campo, desenvolvendo valências a mais por ser praticado em espaço reduzido. O remo e a natação também seguirão. Já temos as piscinas, uma escolinha grande de natação, que é um esporte um pouco mais barato, assim como o remo.

Já os demais esportes dependem de investimentos externos, de parcerias. Quando fui diretor, tinha o sonho de trazer o basquete masculino de volta, mas não houve proposta para isso. Muita gente falava: “Monta o time, que as propostas aparecem depois”. Não dá. É um esporte caro, que você parte de R$ 4 milhões a R$ 7 milhões por ano para ter uma equipe competitiva. Fora isso, é necessário ter todas as escolinhas, a base, a estrutura.

Também devemos levar em conta que o Parque São Jorge é grande, mas não a ponto de receber todas as modalidades. Hoje, todos esses atletas treinam em dois períodos e precisam das salas de fisioterapia, da academia. Mais um esporte cabe lá dentro. Três, não.

Acho o vôlei legal, com essa parceria com a cidade de Guarulhos. O ginásio lá tem ficado sempre praticamente lotado. É um projeto interessante para continuarmos. O que não vamos fazer de jeito nenhum é terceirizar a camisa do Corinthians, como aconteceu com o basquete feminino. Não acho legal dar a camisa e não saber como está sendo usada. No basquete feminino, uma atleta teve problema com a comissão técnica e processou o Corinthians. É melhor para ela, não? Normal. Ela sabe que, de uma forma ou de outra, o Corinthians vai pagar algum dia.

Gosto muito do basquete por conta da história do clube no esporte. O nosso ginásio se chama Wlamir Marques por isso. Também há uma liga organizada, da qual participo das reuniões, independente, com grandes patrocinadores privados. É muito mais fácil entrar em um negócio que está funcionando.

Se fosse citar outro esporte, falaria do futebol americano. Ainda está incipiente no Brasil, com uma liga amadora praticamente, mas fui eu que comecei o Corinthians Steamrollers. Chamava-se Diadema Steamrollers, e fizemos uma parceria para jogar flag. Depois, compramos os equipamentos – o pessoal era muito organizado – e entramos na liga. Fomos campeões duas vezes. O esporte está crescendo muito, e a juventude gosta de ver.


VEJA TAMBÉM
- Timão escalado para o jogo contra o Argentinos Juniors
- Reserva do Corinthians, Carlos Miguel é sondado por clubes do Brasil e da Europa
- Timão escalado para o jogo contra o Juventude









10665 visitas - Fonte: Gazeta Esportiva

Mais notícias do Corinthians

Notícias de contratações do Timão
Notícias mais lidas

VOCÊ QUE ESTÁ CANSADO DE TER POUCA PROGRAMAÇÃO DE TVV ASSSINATURA E NÃO CONCORDA COM OS VALORES COBRADOS
FAÇO LIBERAÇÃO E DIMINUÍMOS O VALOR DA CONTA
PARA TODO BRASIL
WHATZSAP 11 958694345

um bom candidato, excelentes propostas

Enviar Comentário

Para enviar comentários, você precisa estar cadastrado e logado no nosso site. Para se cadastrar, clique Aqui. Para fazer login, clique Aqui ou Conecte com Facebook.

Últimas notícias

  • publicidade
  • publicidade
    publicidade

    Brasileiro

    Dom - 16:00 - Neo Química Arena -
    X
    Corinthians
    Atletico-MG

    Sudamericana

    Ter - 19:00 - Neo Química Arena
    4 X 0
    Corinthians
    Nacional Asuncion
    publicidade
    publicidade
    publicidade