Em menos de dois meses, a vida de Marquinhos Gabriel se transformou. E isso não tem a ver somente com as boas atuações do jogador, que, nos últimos dois jogos em que entrou em campo pelo Corinthians, contra Vitória e Vasco, deu duas assistências e marcou um gol. Quando perdeu um dos pênaltis na eliminação da Copa do Brasil para o Internacional, em 19 de abril, o meia-atacante convivia com a desconfiança da torcida, a autocrítica para render mais e as inquietações e medos de um pai de primeira viagem. Dias após àquela derrota na Arena, nasceu Enrico, filho do casamento com Diana Staudt. O que aconteceu depois disso é resumido pelo jogador em uma frase:



Mas não foi só no lar que ele encontrou apoio. Fábio Carille afirmou que desejava recuperá-lo e tem trabalhado para cumprir o prometido. Na entrevista ao Globoesporte.com, Marquinhos Gabriel destacou a importância do treinador e contou alguns detalhes da conversa que tiveram.

Para o jogador, seria mais fácil dar a volta por cima em outra equipe. Porém, isso representaria, segundo ele, uma demonstração de falta de confiança no próprio futebol. Marquinhos garante sentir o oposto e exibe convicção ao falar que sua reação no Timão está apenas começando. Confira abaixo a entrevista do camisa 31, que será titular novamente no clássico contra o São Paulo, neste domingo, em Itaquera:

Marquinhos Gabriel foi tietado por torcedores depois do treino de sexta-feira (Foto: Bruno Cassucci)

Como foi para você lidar com as críticas e cobranças depois do pênalti perdido contra o Inter?

A cabeça do jogador precisa ser um pouco blindada, sabemos que o torcedor vai da água para o vinho muito de repente. Em um dia fazemos um jogo espetacular, mas se no outro vamos mal, as pessoas vão se lembrar da atuação ruim e esquecer o que foi feito de positivo. Mas eu tenho administrado isso da melhor forma possível, é claro que sofremos um pouco, mas tenho pessoas ao meu lado que têm me ajudado muito. Tenho certeza de que esse é só o começo de uma bela recuperação que vou ter aqui.

Você atuou em duas partidas e foi muito bem. Em vez de se abater com aquela situação, você conseguiu encontrar uma motivação extra?

Penso que isso faz parte da nossa profissão. Infelizmente foi comigo, com o Arana e com o Maycon que aconteceu. As pessoas pegaram mais no meu pé porque eu já não vinha numa fase boa. Foi difícil para mim no momento, mas continuei trabalhando forte. Professor Carille tem uma participação muito importante nisso, minha recuperação está acontecendo muito por causa dele.

Seria mais fácil para mim pedir para buscar novos ares, procurar uma outra equipe para conseguir voltar a jogar em alto nível. Só que isso deixa a gente como um cara que não acredita em si mesmo, e comigo é o contrário. Acredito muito na minha força, agora acho que tenho conseguido demonstrar o que sei, o que sou. Até o fim do ano, espero continuar nessa pegada, nessa concentração, para buscar meus objetivos.

Percebe já uma reação diferente da torcida? Acompanha isso na rua, nas redes sociais?

Tenho acompanhado, mas muito pouco. Não gosto de redes sociais, sou bem tranquilo quanto a isso. Às vezes, meus amigos me mandam. Agora estamos sentindo um pouco mais de confiança do torcedor. Temos de trazer isso para o nosso lado. A equipe vive um bom momento, isso que é importante. Aí, as individualidades vão aparecendo. Pretendemos seguir com isso para buscar títulos.

Esse discurso de que as individualidades aparecem quando o coletivo vai bem era adotado pelo Tite e tem sido reforçado no Corinthians pelo Carille. Acha que em 2016 a má fase de toda a equipe o prejudicou?
É normal. Se for pegar os exemplos, tem um caso muito marcante que é o da seleção brasileira. A equipe com o Dunga era totalmente diferente, não encaixava. Depois que o Tite assumiu, é totalmente diferente, um time compacto. Acho que aqui aconteceu o mesmo. No ano passado, nossa equipe não encaixava, não conseguíamos exercer nossas funções bem, as individualidades não apareciam. Mas, neste ano, a gente tem encontrado uma equipe bem postada defensivamente, que no ataque tem criado bastante. Vai muito por esse lado, com a equipe bem, as individualidades vão aparecendo.

Você mencionou a importância do Carille. Fale mais sobre isso.
Ele sempre foi muito claro comigo. Quando eu estava machucado, ele falou que me esperava o quanto antes no campo. Isso traz confiança para o jogador. Quando voltei, logo ele me colocou para jogar, conversou muito comigo quanto à situação de eu ser mais maduro para aceitar situações que acontecem durante o jogo e também que teríamos uma sequência complicada de Copa do Brasil e Sul-Americana pela frente. Então, ele me deu muito apoio, falou que eu poderia falar com ele no que precisasse. Isso me ajudou muito. O Alessandro (Nunes, gerente de futebol), também. O pessoal conversou muito comigo, tem muita parcela nessa recuperação.

O que você quer dizer com ser mais maduro para aceitar situações que acontecem durante o jogo?

Tem situações no jogo que, quando a gente é mais novo, não entende. As coisas acontecem não porque a gente quer, mas o jogo traz isso, tem partidas pesadas e há jogadores que sentem. O Carille passou que via que eu conseguia absorver todas as situações do jogo. Assim, eu seria importante naquela fase dos jogos difíceis.

A gente vai ganhando cancha, maturidade conforme a idade vai chegando. Agora estou criando isso mais do que nunca. Depois do ano passado complicado, tenho amadurecido bastante. Espero continuar nessa concentração que estou.

Você completou 50 jogos pelo Corinthians diante do Vasco, na última quarta-feira. Depois de um ano no clube, entende melhor a sua responsabilidade e o que a torcida espera de você?

Eu gosto muito de seguir exemplos. Tem vários jogadores que chegaram aqui e não deram certo no começo. O próprio Rodriguinho foi emprestado para que, quando voltasse, encaixasse bem na equipe. Ele passou por situações que tenho vivido. Se a gente for ver o contexto todo, enxerga mais coisas, entende melhor a realidade. Não quero sair daqui para me firmar depois, quero continuar. Depois que a gente sai, perde espaço ou pode ir mal em outro lugar e não ter mais chance aqui. O Corinthians é um dos gigantes do Brasil, todo mundo quer estar aqui. Enquanto eu estiver aqui, vou brigar pela minha equipe e pelos meus companheiros.

Em algum momento, você pensou em sair?

Em algumas situações eu até pensei, mas sempre foi de cabeça quente, depois de jogos em que as coisas não vinham acontecendo. Isso começa a martelar na cabeça da pessoa. Mas falei muito com a minha esposa, que tem me ajudado muito nisso, agora também veio meu filho, algo excepcional na minha vida. Isso também traz maturidade para que a gente sobreviva a essas situações. A minha vontade de estar aqui sempre foi a mesma. Quando chegaram sondagens perguntando de mim, falaram que não iam me liberar, perguntaram se eu gostaria de ficar e eu sempre falei que sim. Tenho contrato e espero cumpri-lo.

Como seu futebol foi afetado antes e depois do nascimento do seu filho?

Eu estava muito ansioso para que ele chegasse. No ano passado, muita coisa passou pela minha cabeça. Graças a Deus, o parto foi bem tranquilo, agora também está sendo sossegado. Muita gente falava que a gente não dormiria direito, nos assustava. Mas eu tenho dormido bem, ele, também. Só de vez em quando tem uma cólica ou outra. Ele veio num momento certo, em que eu precisava. Quando eu chego em casa, é muita alegria.

Falamos de várias questões emocionais, mas e no aspecto físico, você está melhor?

Tenho procurado fazer o algo a mais, que todo mundo fala. Quando a gente está treinando, todo mundo está no mesmo nível, temos de fazer algo a mais para estar acima dos demais. Tenho procurado fazer isso. Tenho feito meus trabalhos extras. Isso tem me ajudado. Tenho me sentido melhor em campo. No ano passado, eu me senti um pouco pesado. Não estava gordo, longe disso, mas minhas ações no campo não eram as mesmas. Esse ano tem sido diferente, estou conseguindo fazer o que penso. Minhas pernas têm ajudado. O algo a mais que faltava, estou conseguindo fazer.

O clássico contra o São Paulo pode servir para afirmar essa sua reação?

É o jogo que todo mundo quer jogar. Se der tudo certo para a gente, conseguirmos um resultado bom, as individualidades vão aparecer. Primeiro, a equipe tem que vencer. Aí, consequentemente, vamos jogar bem. Eu, Clayson, Paulo Roberto e o pessoal que tem entrado vem buscando esse espaço no time. Se Deus quiser, tudo vai dar certo.

E você tem boas lembranças contra o São Paulo. Quando defendia o Santos, fez grandes jogos contra o rival em 2015...
É sempre bom relembrar. Contra o São Paulo, fiz alguns gols importantes em 2015. É tentar fazer tudo de novo, repetir esses gols e boas atuações, acho que vai dar tudo certo.

Veja as informações de Corinthians x São Paulo, pela sexta rodada do Brasileiro:

Local: Arena Corinthians, em São Paulo
Data e horário: domingo, 16h (de Brasília)
Corinthians provável: Cássio, Paulo Roberto, Balbuena, Pablo e Guilherme Arana; Gabriel e Maycon; Marquinhos Gabriel, Jadson e Romero; Jô

Desfalques: Fagner e Rodriguinho (convocados); Léo Príncipe, Danilo e Mantuan (no departamento médico); e Vilson (recondicionamento físico)

Pendurados: ninguém
São Paulo provável: Renan Ribeiro; Eder Militão, Maicon e Lucão; Bruno (Marcinho), Jucilei, Cícero e Junior Tavares; Marcinho (Thomaz), Lucas Pratto e Maicosuel

Desfalques: Rodrigo Caio e Cueva (convocados), Wesley e Araruna (aprimoram a forma física), Buffarini (estiramento na coxa direita), João Schmidt (entorse no joelho esquerdo) e Morato (cirurgia no joelho direito, só volta em 2018)

Pendurados: ninguém
Arbitragem: Ricardo Marques Ribeiro (Fifa-MG), auxiliado por Guilherme Dias Camilo (Fifa-MG) e Pablo Almeida da Costa (MG)

Transmissão: TV Globo para SP, RS, SC, PR, MG (Uberlândia, Ituiutaba
e Uberaba), GO, TO, MS, MT, BA, SE, AL, PE, CE, PA (menos Santarém) e AP (com Cleber Machado, Casagrande, Caio Ribeiro e Leonardo Gaciba) e Premiere e Premiere HD (com Jota Jr, Wagner Vilaron e William Machado)

Tempo Real: GloboEsporte.com, a partir de 14h