12/5/2017 09:17

Técnico que foi da base do Corinthians relata xenofobia e discriminação com brasileiros no futebol dos EUA

Técnico que foi da base do Corinthians relata xenofobia e discriminação com brasileiros no futebol dos EUA
Daniel trabalhou na base do Corinthians; na foto, com o troféu do Paulista sub-17 de 2007

Daniel Musatti é treinador, tem 36 anos, é de São Paulo e começou a carreira no Marília. Foi funcionário por quatro anos das categorias de base do Corinthians antes de ir para os Estados Unidos, em 2010, onde foi trabalhar também com futebol, no Nomads SC, de San Diego.

No entanto, o mundo no esporte americano é bem diferente do que ele esperava. Após mais de sete anos por lá, contudo, o brasileiro quer voltar. Decepcionou-se com o que encontrou, principalmente com relação a tratamento dado aos estrangeiros nas ligas locais.

Em conversa com o ESPN.com.br, Daniel acusou casos de discriminação e desigualdade com relação a americanos vividos por ele nos Estados Unidos. Agora, quer retornar ao Brasil. "Nós brasileiros não somos bem-vindos aqui", lamentou.

No Corinthians, ele começou com um estágio no time sub-16, e depois exerceu funções de auxiliar e treinador ao longo das diferentes categorias da base alvinegra, onde trabalhou com atletas como Willian, Marquinhos, Dodô, Dentinho e Fagner.

Nos EUA, começou na US Soccer Academy League, que engloba também divisões de base, até chegar à National Premier Soccer League, equivalente à quarta divisão.

Confira, abaixo, o depoimento de Daniel Musatti ao ESPN.com.br:

"Xenofobia e discriminação acontecem aqui há oito anos. Quanto mais a gente vai subindo, mais piora.

A primeira coisa que vi de racismo foi em uma viagem que fiz em dezembro de 2010 para jogar no Arizona. Ficamos no Marriot. Quando fui subir ao quarto do hotel com dois jogadores com cara de mexicanos fomos impedidos por um casal de causasianos de dividir o elevador. E a pessoa que trabalhava no hotel nos impediu de usar o mesmo elevador que eles. E o pessoal do Marriot disse que poderíamos nos retirar se não estivéssemos satisfeitos. Depois, o clube, que era dirigido por ingleses e brancos, não quis abraçar nossa causa pois tinham um acordo por descontos no Marriot.

O segundo episódio foi depois de um ano, em 2011. Fiquei como auxiliar do time sub-16, sub-18, com excelente trabalho como interino, recebendo 30% do salário dos outros treinadores, mesmo tendo licença Uefa e Fifa, e os demais não tendo, mas sendo americanos. E aí no começo de 2012 o diretor preferiu ele mesmo assumir os dois times em vez de me dar o cargo, pois disse que eu não tinha experiência. E colocou uma pessoa com muito menos experiência para ganhar quatro vezes mais, só porque era americano.

Já em 2012 eu entrei em outro clube, recebendo um pouco mais, mas com salário ainda menor. Fui colocado como treinador da Academy, pois tinha licença, e os dois treinadores do clube não tinham essa licença, usaram meu nome para ter alguém com essa licença. Os outros foram e tiraram a licença B, que era a mínima. Efetivaram os dois na Academy, não renovaram meu contrato e acabei tendo que sair do clube.

Depois, em 2013, cheguei em outro clube da Academy, a pessoa me fez promessa de um certo valor, treinei o time seis meses, não me pagaram nada. Meu visto acabou, não pagaram nada. Voltei ao Brasil na época da Copa, trabalhei no sub-20 da Portuguesa, e fiquei até o fim de 2014 no Brasil, fazendo a preparação ao Brasileiro e Copa São Paulo. Retornei aos EUA em 2015 e o mesmo clube que não me pagou me chamou prometendo treinar três times com salário X e treinador da Academy. Tinha contrato assinado com bônus. Entretanto, na semana seguinte mudaram de ideia e iam me dar só um time e trouxeram um treinador para ocupar meu cargo na Academy sobre o pretexto que estava trazendo clientes ao clube. Então, mais uma vez, não me pagaram, queriam me pagar 900 dólares por mês com todas as minhas licenças, enquanto os treinadores americanos que não tinham nenhuma licença ganhavam 4, 5 vezes mais que eu.

Em janeiro desse ano, na Flórida, tive recomendação para dar um salto ao profissional. Fui convidado para ser treinador do Southern California Soccer Club, da NPSL (National Premier Soccer League), a quarta divisão dos EUA, em um nível acima do que eu estava, e os problemas passaram a ser ainda maiores.

O primeiro problema foi na pré-temporada, onde fizemos amistoso com um time Orange County FC, onde o treinador é Paul Kelly, ex-jogador da seleção americana em duas ou três Copas e representante dos atletas na diretoria da US Soccer. Além de ter cargo de diretor da federação, é treinador de um time que joga sob juízes da mesma federação. No amistoso, ganhávamos por 2 a 0 e o time dele começou a descer o cacete. Dar porrada, chutar a cabeça de jogador nosso caído, pisar, coisas feias. Aí, começou uma briga entre os jogadores. Tirei todos os jogadores, evitamos uma briga, ficou só na discussão. Quando voltamos, ele disse ao juiz que eu invadi ao campo e pediu para que me tirasse do jogo. O juiz veio e me tirou do jogo. A única pessoa que apartou a briga, por sugestão do diretor da US Soccer. Jogamos com esse time de novo no campeonato, fizemos 3 a 0, vimos pressão desse mesmo treinador e aí no segundo tempo a arbitragem deu vários pênaltis até que empatassem. Tenho vídeos e e-mails de tudo, posso provar tudo.

E o pior foi nos últimos dois jogos da Liga. No jogo contra o Albion SC de San Diego, semana passada, nosso centroavante colombiano negro usa muito o braço para se proteger, e o treinador deles virou e falou ao juiz: 'Esse cara parece um gorila, tem que jogar basquete, só usa a mão'. O banco nosso ficou revoltado. Falei com o treinador deles, que me disse que tenho a licença da Uefa, mas que a licença do Brasil não valia nada lá, pois ele era americano e que eu deveria ficar quieto, pois aqui (EUA) não valho nada. Respondi apenas que o Brasil tem cinco títulos e os EUA nenhum. Após o intervalo, os árbitros falaram com esse treinador, americano e branco, não o expulsaram, deixaram ele lá. O árbitro me parabenizou por não responder no mesmo nível que ele. Mas após o jogo não colocaram nada disso no relatório. Colocaram só que eu comecei a discutir com o outro técnico e que não achavam que as coisas que ele disse eram relevantes para ir à súmula. Ficou um relatório mentiroso, todo mundo viu, não teve punição nenhuma. O racismo foi protegido.

Nesse fim de semana voltamos ao Arizona. Agrediram nosso time no primeiro tempo todo sem bola, com cusparadas, coisas terríveis. E, no fim do jogo, com eles vencendo por 4 a 0, o cara veio no banco, empurrou nosso atleta, ofendeu nosso banco todo, todo mundo levantou para brigar, separei, falei para o juiz que não estava fazendo nada e ele me expulsou. Aí, além de tudo isso, o árbitro não puniu agressões sem bola, permitiu que os atletas ficassem gritando de form ostensiva, não viu cusparada nenhuma e não nos entregou a súmula, como devido. Depois, saiu uma decisão da Liga que queriam me suspender por seis meses por conta dessa expulsão. Nunca fui expulso em oito anos de EUA. Em jogo oficial nenhum. Sendo que comportamento de treinadores são muito piores, xingam, etc, e nunca pegaram mais que um jogo. Decidi sair dos EUA. Chegou a esse ponto. Não aguento mais isso. Tenho família para criar e preciso de tranquilidade.

Não tem motivos para ficar mais aqui. É proteção aos americanos, xenofobia, falta de salários iguals, tudo apoiado pela US Soccer. Ninguém segue as regras, todo mundo faz vista grossa e a punição sempre vai a treinadores negros, latinos, seja brasileiro ou de qualquer outro país. Já procurei um advogado, tenho vídeos e testemunhas, e vou entrar na Justiça contra a Liga por xenofobia. Depois de oito anos, vou embora. Nós brasileiros não somos bem-vindos aqui".



VEJA TAMBÉM
- Timão escalado para o jogo contra o Argentinos Juniors
- Reserva do Corinthians, Carlos Miguel é sondado por clubes do Brasil e da Europa
- Timão escalado para o jogo contra o Juventude









2892 visitas - Fonte: ESPN

Mais notícias do Corinthians

Notícias de contratações do Timão
Notícias mais lidas

14 dislike ninguem quer essa porcaria de canal desbloqueado eu so quero saber do meu time.

me isso ai vem ganha menos mais tem dignidade aqui , o pior para um profissional e não ser respeitado, vampeta contrata o técnico para seu time .

DESBLOQUEAMOS OS CANAIS PREMIERE, TELECINE, HBO, COMBATE E CANAIS ADULTOS PARA ASSINANTES DE TV POR ASSINATURA DE QUALQUER LUGAR DO BRASIL E TAMBÉM REDUZIMOS O VALOR DA FATURA.
WHATSAPP 11949348549

Enviar Comentário

Para enviar comentários, você precisa estar cadastrado e logado no nosso site. Para se cadastrar, clique Aqui. Para fazer login, clique Aqui ou Conecte com Facebook.

Últimas notícias

  • publicidade
  • publicidade
    publicidade

    Brasileiro

    Dom - 16:00 - Neo Química Arena -
    X
    Corinthians
    Atletico-MG

    Sudamericana

    Ter - 19:00 - Neo Química Arena
    4 X 0
    Corinthians
    Nacional Asuncion
    publicidade
    publicidade
    publicidade