O promotor do Ministério Público de São Paulo, Paulo Castilho, afirmou nesta terça-feira que os dirigentes dos clubes podem ser investigados pelo órgão caso fique provado qualquer tipo de ajuda deles para as organizadas. Ele declarou isso durante a participação no programa 'Bate Bola' da ESPN Brasil.

"Já temos alguns inquéritos de lavagem de dinheiro nas torcidas. Também temos inqueritos sobre venda clandestina de ingressos dentro das torcidas. Tem entorpecentes. Se dirigentes de clubes insistirem em financiar as torcidas, eles vão ser investigados. Se o clube financiar essas organizações criminosas, serão investigados até por lavagem de dinheiro", disse ele.

Durante o programa, Castilho foi questionado sobre a atitude do presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, que permitiu que torcedores encontrassem com jogadores do time dentro do centro de treinamento corintiano há duas semanas. O ato foi visto de forma negativa e encarado como uma pressão sobre o elenco alvinegro.

"Hoje os dirigentes são reféns das torcidas organizadas. Eu abomino essa relação. Essa relação das torcidas com o jogador. O jogador presta um trabalho e ele não tem de dar satisfação para torcedor. Ele tem de dar satisfação ao dirigente. O clube tem de repensar essa relação", condenou o promotor.

Líder de uma operação que vem tentando conter a violência entre os organizados, Castilho explicou também as medidas tomadas pelo Ministério Público, especialmente após confronto ocorrido neste ano entre corintianos e palmeirenses em São Miguel Paulista, a seis horas e a mais 30 km de distância do Pacaembu, onde os times jogaram no último 3 de abril. Naquele dia, uma pessoa acabou morta. Segundo a polícia, a vítima não tinha ligação com as torcidas.

Desde então, foi decidido que todos os clássicos ocorridos entre times de São Paulo em 2016 serão com a presença de torcedores mandantes.

"Torcida única é uma das medidas que decidimos. A ampliação do juizado do torcedor, a venda de ingresso, efetuar mais prisões e abrir a possibilidade de os organizadores apresentarem um novo modelo", completou o promotor.

ESTUDIOSO DISCORDA

Mauricio Murad, professor de sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), também participou do 'Bate Bola' como convidado e discordou do promotor em alguns pontos, especialmente no que se refere a prática de torcida única.

"Essa medida foi tomada em Minas Gerais e avaliação das autoridades é que o resultado foi insuficiente [para aumentar a segurança]. Isso ocorreu também em Buenos aires e da mesma maneira: dentro do estádio a situação ficou tranquila, mas os organizados vandalizaram a cidade. Na Itália, ela também foi tomada, mas as conclusão foi de que o resultado foi irrisório. Não adianta medida salvadora. Não basta um estado da federação tomar a iniciativa, é preciso de um plano estratégico nacional: medidas de curto prazo, medidas de médio prazo e medidas de longo prazo. Tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo, com uma articulação institucional. Para punir os vândalos e preservar as torcidas, que, em sua maioria, voltem para seus trilhos, com as boas inteções", disse o estudioso.

"O problema da violência nas torcidas organizadas é complexo, multifacetado e envolvem causas e consequências muito grandes. Não se resolve com uma canetada, de cima para baixo, baixando um decreto ou algo do tipo. Acho que nosso combate à torcida organizada é legitimo. São facções infiltradas nas torcidas que as desviaram dos caminhos originais. É preciso separar o joio, que é a erva daninha, do trigo. As torcidas são associações legitimas, democráticas e criativas. Se em parte desviarem seus rumos, é preciso que elas retomem seus rumos originais", disse Murad.