Com ligações com Marco Polo Del Nero, o empresário Wagner Abrahão interferiria na gestão e na realização de contratos da CBF, embora não tenha cargo na entidade. É o que mostram e.mails trocados entre ele e o dirigente afastado da confederação obtidos pelo blog. Empresas da família Abrahão já venderam imóvel ao presidente licenciado e têm longa relação de lucros com a CBF.

Os documentos estão em um pacote de e.mails apreendidos na casa de Del Nero em 2012 durante a Operação Durkheim. Agora, servem de subsídio para a CPI do Futebol.

Entre eles, estão conversas entre Del Nero e Abrahão no final de outubro de 2012 sobre contratos de patrocínio. No primeiro e.mail, o então vice-presidente da CBF questiona: “Preocupante a situação da Gol. pois os jornais noticiam que a TAM denunciou o contrato, abs''. Naquele momento, a Tam rompia o acordo com a confederação.

No mesmo dia, Abrahão responde: “Minhas informações da Gol são que assinaremos o contrato muito rapidamente. Vamos aguardar até segunda. Dia 5, abraço, Wagner''. Em maio de 2013, a CBF assinou contrato de patrocínio com a Gol.

Fica clara pela troca de e.mails que é Abrahão que toca a negociação e informa o então vice-presidente sobre o andamento das negociações – o então presidente José Maria Marin sequer participa. O empresário também atuou em relação ao ex-patrocinador da CBF Marfrig, indicando que consultava o ex-presidente Ricardo Teixeira. Em outra troca de e.mails, ainda dá palpite sobre o modelo de avião a ser escolhido pela CBF.

Primeiro, Abrahão requisita uma análise comparativa de aeronaves a um fabricante. Depois, envia o estudo para Del Nero com o seguinte e.mail: “Marco, Conforme falamos veja você mesmo o que lhe disse naquela noite. Atente que (sic) ato mais alto, menos turbulência, mas também tem que ser analisada a distância entre origem e destino, um abraço Wagner, PS Estou em Paris, amanhã ou quarta me encontro com RT vou entender um pouco do processo da Marfrig.''

Em resposta, Del Nero manda e.mail ao fabricante com cópia pra Wagner: “Por gentileza verificar se é Falcon 2000 LX ou S o preço de US$ 26 (trata-se de US$ 26 milhões). Estou enviando esse e.mail e copiando o Wagner que espero que autorize vc a executar essa pesquisa.''

Em seguida, Wagner traça opções para compra do avião, deixando claro que atuará no negócio. É o que mostra o trecho da sua resposta: “E acho que podemos, se for do seu interesse, colocar o avião atual na operação.''

A CBF, de fato, comprou um novo avião. A Marfrig tornou-se inadimplente, o que levou a confederação a processá-la no final de 2013.

Em 2015, a empresa Jat Administração, de propriedade dos filhos de Abrahão, vendeu por cerca de R$ 5 milhões um apartamento de cobertura na praia da Barra da Tijuca para Del Nero. Afastado da confederação, Del Nero continuou a viajar em jato particular de Abrahão, além do da CBF.

Os e.mails ainda revelam o poder de Del Nero na entidade enquanto ainda era vice. Isso desmente afirmação que fez à CPI do Futebol de que era um mero vice sem poderes durante a gestão de José Maria Marin: “Eu era vice-presidente e sempre respeitava as decisões da presidência'', afirmou. Em entrevistas, disse que vice não mandava nada.

Desde a década de 90, pelas mãos de Ricardo Teixeira, as empresas de Abrahão detém todos os contratos de viagem da CBF e dos Brasileiros das Séries A, B, C e D. Seus ganhos com a entidade são milionários, embora a confederação não os revele nos seus balanços financeiros. Quando Teixeira saiu do Brasil em um jatinho após renunciar, viajou com Abrahão para Miami.

A CBF informou que não comentaria o teor dos e.mails por questionar seu conteúdo: “A CBF não pode se manifestar a respeito de documentos de origem duvidosa, provenientes de vazamentos ilegais, cuja autenticidade de seu conteúdo e contexto não se pode aferir.''

Após contatos por telefone, o blog mandou perguntas à assessoria do Grupo Aguia, do qual Abrahão é presidente, e para advogados de Del Nero. Nenhum dos dois respondeu.